Quanto mais conheço, mais descubro o quão nada sei. Mas é bem verdade que, a mente que se abre para o conhecimento nunca mais retorna ao que era antes. Felizmente, ou não.

Como outrora adormeceu...

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Subjetividade não é uma pergunta que se lança como qual é seu nome; é uma pergunta que se lança sobre quem é você. Ao passo que sua percepção aumenta, diminuem suas respostas para a última pergunta. Desta forma não cabe a mim dizer o que lhes será encontrado, cabe-me humildimente apenas assentar de que forma encontrei-me aqui.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A melancolia de um sonho,
que engano o meu.
Se os pilares de seu mundo parecerem tremer,
e se algum ameaça cair, construa novos.
Ou não construa nenhum.
Dizem até que devemos ter cuidado ao cortarmos nossos defeitos,
porque não sabemos qual deles pode sustentar o edifícil inteiro.
E se nada posso dizer para solucionar,
quem sabe posso para me libertar.
Se as pessoas lhe parecem iguais, o que lhe resta fazer?
Não procurar, se você pode ver isso,
é o suficiente pra lher fazer diferente.
E se lhe parecem previsíveis demais,
faça de suas previsões um escudo.
Tentar não chorar.
Reter em forma de gelo pode parecer a solução à priori,
mas isso pode fazer mal, pode causar resfriado na melhor hipótese.
Mas se a supresa vem pra te desagradar?
Ela distrói um baluarte.
As vezes a infelicidade se esconde muito bem,
se esconde sob o bem-estar momentâneos e imediatos,
ou mesmo sob uma pseudo-satisfação, conformação generalizada.
A dor do mundo não pode ser maior do que sua coragem de lutar.
Estou aqui por uma razão,
dizer-lhe que, você não precisa de nada além de suas necessidades vitais do corpo pra sobreviver,
mas que você precisa de mais, pra poder realmente viver.
Mas se lhe faltam coisas a mais pra viver, ainda te restam coisas pra sobreviver,
e tais coisas para sobreviver é o que lhe manda procurar esse algo a mais.
Mas que esse algo mais jamais seja seu tudo.
Seu pilar.
Seu pilar é você, é a força que você nem sabe que tem, mas tem.
Sua força é Deus.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sinfonia desesperada, alma aguda e desengonçada, poesia sem fala, exprema, cante. Coleção tênue,
sobre a linha do Equador. Sutileza de aurora, a natureza que vive, aflora sem temor. O que cintila não tem laço, nem esquadro, mas realiza com amor. Minhas palavras são incompletas, indefinidas e inconstantes. São pássaros fugitivos de gaiola, por isso são palavras soltas de sentimentos vãos de gaiola vazia.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Lugar de Pseudo-Todos

 A mãe com cuidado leva o bolo nos braços, o pai levava as coisas das crianças, e o resto do material para festa. As crianças acompanhavam-os saltitantes, sorrindo, levava-os consigo a ansiedade, certamente não só a ansiedade, mas outras emoções de criança na qual não se pode defini-las de outra forma, se não “de criança”, emoções essas que certamente já haviam sido levadas pelo vento no decorrer do tempo de seus pais, e de seu irmão mais velho, que também acompanhava-os, sem tanto entusiasmo.
  É chegado o local, um parque da cidade. Muito espaço, muito verde, muito brinquedo, era perfeito. Aline não queria, sentia-se envergonhada, mas Josué havia insistido, “as crianças vão gostar”, estava certo.
 A mesa de plástico trazida pelo mais velho era colocada em baixo da árvore, em cima desta, o bolo, e na árvore as bolas. Aline no momento confortava-se apenas pelo fato de que seu rosto não estara vermelho, pois sua cor de pele não permitia, pois caso contrário estaria notavelmente “queimando feito brasa”, como assim definiu intimamente.
 Josué interiormente sentia-se também um certo receio, haja visto que não havia saído da Barra, ou do Itaigara, e sim de seu barraco construído em uma “invasão” próxima ao parque, e podia sentir o contraste e o antagonismo entre eles e os outros desde as vestimentas de sua família, com a de outras famílias ricas e brancas que frequentavam o local. Mas ainda sim insistiu, era aniversário do Miguelzinho, e uma festa pro seus amigos, ou um passeio, ele não podia pagar.
 Nos meninos roupas sujas e amassadas, Aline os havia avisado “essas roupas são para festa”, mas a frase entrou do lado esquerdo do ouvido na posição em que a mãe estava, e sem nenhum tipo de filtro saiu pelo outro lado. Pegaram as roupas vestiram-nas e foram brincar na rua em frente ao barraco, sujaram-nas e não tinha mais outra pra trocar.
 Corre-corre, pega-pega, grita-grita. Sentados na grama olhando os meninos brincarem, Aline e Josué. Um pouco mais afastado, sentado a grama, olhando pro nada, e pensando em tudo, o mais velho. Passa-se uma hora desde que chegaram, “Mãe, tô com fome”, é hora dos parabéns.
 Aline já estava mais à vontade, Josué também. A não ser pelos olhares que os corria o corpo de cabeça aos pés, mas eles já sabiam que seria assim. Eram “pretos, pobres, e favelados” como ouviram sempre a vida toda.
 “[...] Rá-tim-bum! Miguel! Miguel!”, palmas. O bolo foi dividido, a Coca-Cola rendeu apenas um copo pra cada. No calor do parabéns pra você, Josué não percebeu que seguranças de braços cruzados e olhares firmes, observavam-nos. Com aquele “barulho” a família ao lado, apresentava-se ainda mais incomodada, visivelmente transtornada com aqueles “marginais perigosos” .
 - Retirem-se. Coloca o segurança, não bem assim ele falou, mas assim podem-se resumir suas palavras hostis.
 Não queriam. Ela abaixa a cabeça, recolhe a bagunça, catou um por um. Ele, tenta explicar, é empurrado. Respira o choro, ele passa pra garganta, então engole. Engole mas ele retorna como um refluxo, suas lágrimas perfuram o chão, e muito mais sua pele, como granizo. Cadu, o mais velho, aproxima-se, usa consigo a vergonha como boné, para esconder seus olhos de seu pai. “Por que Cadu?” diz o olhar de Josué ao chão, e sua mão no ombro de seu filho. “Perdão pai, mas se não fosse eu, eles quem iriam queixar-se  do senhor, melhor por mim, do que por qualquer outro”.
 - “Brigada” pela surpresa, papai.
 Miguelzinho agarra suas pernas, e volta a brincar e a correr com os irmãos. Forma-se um público em volta, Josué bambeia, quer se esconder, mas fortalece-se, levanta o rosto, sorri. É hora de voltar pra casa.